quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Supremacia Google

Para sobreviver, sites adaptam-se às exigências do Google

Por: STEVE LOHR
CLAIRE CAIN MILLER
DO "NEW YORK TIMES"
 
Órgãos reguladores dos EUA e da Europa estão realizando uma investigação abrangente sobre o Google, o maior site de pesquisa e publicidade da internet. O relacionamento entre o Google e os sites da web, editores e anunciantes muitas vezes parece assimétrico, ou mesmo injusto.
 
"Estamos vivendo no mundo do Google", diz Jeffrey G. Katz, executivo-chefe da Wize Commerce, dona do site de comparação de preços Nextag.
 
Nos Estados Unidos, o Google detém 67% do mercado de buscas e fatura 75% dos anúncios em buscas. Ser grande não é crime, mas se uma empresa poderosa usa sua força no mercado para abafar a concorrência é uma infração da lei antitruste.
 
Em fevereiro, Katz ficou ansioso ao ver a diminuição do tráfego on-line do Nextag a partir do sistema de buscas do Google. Engenheiros e consultores se empenharam em descobrir se o problema era culpa do Nextag.
 
Daniel Rosenbaum/The New York Times
Ron Kahlow, diretor do Vote-USA.org, que descobriu por que o site perdia audiência vinda do Google
Ron Kahlow, diretor do Vote-USA.org, que descobriu por que o site estava perdendo audiência vinda do Google
 
Talvez alguma modificação inadvertida tivesse levado o algoritmo do Google a rebaixar o Nextag quando uma pessoa digitasse termos de busca relacionados a compras.
 
Mas os engenheiros concluíram que não. O tráfego originário do Google continuou declinando. A reação do Nextag? Dobrou seus gastos em publicidade paga nas buscas do Google nos últimos cinco meses.
 
A medida foi necessária para reter os compradores, diz Katz, porque estima-se que 60% do tráfego do Nextag venham do Google.
 
O Google forneceu e alimentou uma paisagem de oportunidades. Seu sistema gera US$ 80 bilhões por ano em receitas para 1,8 milhão de empresas, sites da web e organizações sem fins lucrativos só nos EUA, calcula a empresa.
 
Mas o gigante das buscas atraiu a atenção das autoridades antitruste ao avançar além de seu produto principal --pesquisas e publicidade em pesquisas--, para campos como comércio on-line e resenhas locais.
 
De fato, o governo americano lançou contra o Google a mais exaustiva investigação sobre uma grande corporação desde que examinou a Microsoft, no final dos anos 1990.
 
A Comissão Federal de Comércio recomendou a preparação de um processo antitruste contra o Google, segundo pessoas informadas sobre o inquérito, que falaram sob a condição de anonimato.
 
A questão antitruste é se o Google usa sua máquina de buscas para favorecer suas ofertas em relação às da concorrência. Isso também é tema de negociações com a União Europeia.
 
AJUSTES NO ALGORITMO
 
O Google está constantemente ajustando seu algoritmo de buscas, o software inteligente que determina a relevância, a classificação e a apresentação dos resultados das pesquisas, geralmente links para outros sites da web.
 
O Google há muito tempo afirma que seu algoritmo elimina sites de baixa qualidade. Mas esse algoritmo é secreto, e as mudanças podem deixar os sites em má situação.
 
A Vote-USA.org, grupo sem fins lucrativos fundado em 2003 que publica amostras gratuitas de votos, viu seu tráfego cair acentuadamente por volta de 2008, diz seu diretor, Ron Kahlow. O motivo: "Nós desaparecemos do Google".
 
Annie Tritt/The New York Times
Jeffrey Katz, presidente-executivo do Wize Commerce, que diz que boa parte de sua audiência vem do Google
Jeffrey Katz, presidente-executivo do Wize Commerce, que diz que boa parte de sua audiência vem do Google
 
Uma explicação veio através de uma conexão pessoal, que conseguiu que um engenheiro do Google investigasse a questão. O problema, como soube Kahlow, era que as páginas estaduais do site também tinham informação sobre os candidatos nacionais.
 
Para o algoritmo do Google, conteúdo duplicado em um site sugere um atalho obscuro para tentar fazer o site parecer maior do que é.
 
Kahlow consertou isso e o Vote-USA.org saiu da lista negra do Google. Mas, nesta última eleição, ele ficou atento, temendo que o Google promovesse sua própria ferramenta de orientação sobre onde votar e amostras de votos, como seu site oferece.
 
"Tenho certeza de que eles sabem o valor que está sendo gasto em política e tenho certeza de que gostariam de levar um pedaço do bolo", disse Kahlow.
 
OUTROS CASOS
 
No início do ano passado, pequenos sites de notícias de todo o país desapareceram do Google e seu público despencou.
 
"Não houve explicação do motivo ou um lugar onde você pudesse buscar mais informação", diz Hal Goodtree, editor-chefe do CaryCitizen, um site de notícias locais em Cary, na Carolina do Norte.
 
O Google não compete com sites como esse na laboriosa tarefa de relatar notícias locais. Mas Lance Knobel, um fundador do Berkeleyside, um site de notícias em Berkeley, na Califórnia, diz que sites como o dele competem com o Google por publicidade local.
 
Enquanto a companhia reforça o Google Plus Local, sua listagem de empresas locais e serviço de resenhas, Knobel diz que a máquina de buscas do Google poderá predudicá-lo. Uma pessoa que busca informações sobre uma empresa local pode ser conduzida para o Google Plus Local, em vez do Berkeleyside, diz.
 
Falando em uma conferência em outubro, Larry Page, um dos fundadores do Google, abordou a questão da concorrência com outras empresas da web. "Essa é sempre uma questão difícil", respondeu.
 
Mas não é nova. Ele mencionou o Google Maps, em 2005. "Naquela época, tivemos o mesmo tipo de críticas", disse. "Como: 'Oh, já existe o MapQuest'. Alguém já ouviu falar nele? Ninguém mais o usa."
 
Hoje, o MapQuest tem a metade do número de visitantes mensais do Google Maps, segundo a comScore.
 
O objetivo principal do Google, sugere Page, é o constante aperfeiçoamento de seu produto, o que significa acrescentar serviços que coletem e analisem dados mesmo que algum concorrente possa sofrer.
 
O Google afirmou isso insistentemente para os reguladores, porque, em um processo antitruste, o benefício do consumidor tem grande peso.
 
Mas isso é um subterfúgio para concorrentes como o Nextag, que mudou sua estratégia para ser menos vulnerável ao que considera uma incursão do Google no comércio. O plano revisado, diz Katz, "nos dá a oportunidade de ser uma empresa muito mais saudável".
 
 
 
 
 
LOHR, Steve; MILLER, Claire Cain; Para sobreviver, sites adaptam-se às exigências do Google. DO "NEW YORK TIMES". Tec. Disponível em

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O poder das redes sociais

Estudos reabrem debate sobre o impacto de redes sociais na vida das pessoas

Por: ALEXANDRE ARAGÃO
DE SÃO PAULO
 
Qual o impacto das redes sociais na vida das pessoas? Elas nos aproximam ou nos afastam?
A discussão, que mobiliza acadêmicos desde que Orkut e Facebook se tornaram populares, ganhou novos capítulos recentemente, com o lançamento de dois livros de teorias opostas.
 
De um lado estão o sociólogo Barry Wellman, da Universidade de Toronto, e Lee Rainie, diretor do instituto Pew. Eles são autores de "Networked: The New Social Operating System" ("Em Rede: O Novo Sistema Social", sem edição em português), no qual defendem que esses sites são elementos de união.
 
Do outro lado, Andrew Keen, historiador, empreendedor pioneiro do Vale do Silício e autor de "Vertigem Digital" (Zahar, R$ 44,90), no qual procura explicar por que as redes sociais estão "dividindo, diminuindo e desorientando" seus usuários.
 
"REVOLUÇÃO TRIPLA"
 
Wellman e Rainie recorrem a pesquisas sobre o uso de tecnologia nos EUA, produzidas pelo instituto Pew, para argumentar que a sociedade está ficando mais integrada por três fatores, que eles definem como "revolução tripla".
 
Divulgação
O sociólogo Barry Wellman, professor da Universidade de Toronto e coautor de "Networked" ao lado de Lee Rainie
O sociólogo Barry Wellman, professor da Universidade de Toronto e coautor de "Networked" ao lado de Lee Rainie
 
O primeiro, do qual a web é peça-chave, é a substituição de grupos sociais coesos por redes interligadas entre si por vários indivíduos.
 
"No passado, as pessoas tinham círculos sociais pequenos, fechados, nos quais familiares, amigos próximos, vizinhos e líderes comunitários formavam uma rede de proteção e ajuda", escrevem os autores. "Este novo mundo de individualismo conectado gira em torno de grupos mais soltos e fragmentados que oferecem auxílio."
 
Segundo eles, completam essa "revolução" o aumento do acesso à banda larga e o uso disseminado de smartphones e tablets.
 
"Dizem que as redes sociais desagregam, mas não há nenhuma evidência sistemática de que isso esteja, de fato, ocorrendo", afirma Wellman, em videoconferência com a Folha.
 
Divulgação
O historiador Andrew Keen, autor de "Vertigem Digital"
O historiador Andrew Keen, autor de "Vertigem Digital"
 
PRISÕES DE LUXO
 
Já Andrew Keen utiliza como alegoria de sua tese uma prisão do castelo de Oxford que foi transformada em hotel cinco estrelas. Nela, um átrio central permitia que todos os prisioneiros fossem vigiados --hoje, as antigas celas viraram quartos luxuosos.
 
Para ele, assim são as redes sociais: parecem hotéis cinco estrelas, mas não passam de cadeias em que um preso vigia o outro constantemente. "Muito da minha conclusão foi derivado do meu próprio uso de redes sociais", afirma, por e-mail.
 
O uso que fazemos das redes sociais, diz, serve para nos manter ligados a nossas identidades virtuais, o que nos faz deixar de lado as reais.
 
Para Keen, uma frase de Sherry Turkle, professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), resume sua opinião: "Entramos em rede porque estamos ocupados, mas acabamos passando mais tempo com a tecnologia e menos uns com os outros".
 
 
AS REDES EM USO
 
273
é o número médio de amigos que os brasileiros têm em redes sociais
 
91%
dos brasileiros com acesso à internet têm perfis em alguma rede social
 
69%
dos adultos que usam internet nos EUA têm perfis em redes sociais
 
92%
é para quanto sobe a porcentagem entre a população de 18 a 29 anos
 
Fontes: comScore, Ibope Mídia e Pew Research Center
 
 
 
 
 
ARAGÃO, Alexandre; Estudos reabrem debate sobre o impacto de redes sociais na vida das pessoas. DE SÃO PAULO. Tec. Disponível em
 
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A vez das Pequenas e Médias Empresas - PMEs

Vindo de encontro ao post (Cloud Computing amplia horizonte de negócios) publicado pelo Profº. Drº. Vivaldo José Breternitz em seu blog tecnologianavidadiaria.blogspot.com no qual comenta sobre as inúmeras possibilidades sobre o uso da cloud computing (computação nas nuvens), e a mudança de paradigma que as grandes empresas deverão adotar em suas políticas de TI.  Em contra partida abre espaço para as Pequenas e Médias Empresas - PME's se destacarem em seus ramos de negócios. Como de acordo com Andrade (Gente e Mercado, 2012) comenta:

Pequenas e médias empresas abrem oportunidades para segmento de TI

Por: Álvaro Andrade
Gerente Regional Norte/Nordeste IBM.
 
 
Uma das maiores forças motrizes da economia brasileira, o segmento representado pelas pequenas e médias empresas tem vivido um dilema: se por um lado o mercado, com consumidores ávidos por novos produtos e serviços, apresenta um imenso potencial de crescimento, por outro a falta de base tecnológica para suportar o crescimento e aumentar a competitividade dos negócios representa uma difícil barreira a ser transposta para atingir rapidamente um novo patamar de negócios.
 
Apesar disso, temos visto uma profunda mudança em curso que, se não permite ainda dizer que o dilema está totalmente equacionado, apresenta um horizonte extremamente positivo e animador. As PMEs têm saído em busca de ferramentas para equacionar a necessidade de crescimento versus a capacidade limitada para investir em complexas plataformas tecnológicas – até então disponíveis apenas para grandes corporações. Ao mesmo tempo, as gigantes do setor estão percorrendo a outra metade do caminho, adaptando ou criando um portfólio de soluções para atender à demanda desse mercado que, ainda emergente, já sinaliza ser um dos mais atrativos tanto por sua robustez quanto por seu crescente apetite por novas tecnologias.
 
A robustez do segmento pode ser mensurada pelo número de negócios, que já ultrapassa a casa dos seis milhões no Brasil, sendo quase um milhão deles localizados no Nordeste brasileiro, uma das regiões de destaque na abertura de PMEs. Estudos apontam que as oportunidades de Tecnologia da Informação (TI) nesse setor no Brasil significam algo em torno de US$ 5,6 bilhões em 2012.
 
O apetite por novas tecnologias ultrapassa a simples questão da sobrevivência num mundo global e impõe-se cada vez mais como fator de competitividade e de sustentabilidade dos negócios. Um exemplo das potencialidades de expansão da adoção de tecnologias é o varejo, onde 70% das empresas ainda carecem de ferramentas já disponíveis como CRM, fundamental para aprofundar o conhecimento e as relações com clientes, aumentando o poder de conquista e fidelização.
 
Outro exemplo são as soluções inteligentes aplicadas à logística e aos sistemas de transporte público, que podem representar um grande diferencial competitivo para as empresas. O roteamento mais racional, apoiado por modelos estatísticos sofisticados, pode se traduzir em redução de custos, conforto para os usuário e clientes, qualidade de vida para os funcionários e menos emissão de poluentes na atmosfera.
 
Fato é que, com o mercado mais maduro e, portanto, mais exigente, as empresas de pequeno e médio porte têm demandado tecnologias avançadas, mas que não comprometam a capacidade de investir na busca da excelência do seu produto final e na expansão da produção. Ou seja, soluções que suportem seu crescimento orgânico e sejam plataformas seguras para continuarem ganhando musculatura. Ao mesmo tempo, essas inovações tecnológicas precisam trazer embutidas soluções que atendam a outro importante anseio dos consumidores, a produção cada vez mais limpa e sustentável.
 
Para atender esse mercado em constante evolução, empresas que antes tinham como foco a criação de soluções com nível de complexidade apenas para grandes corporações redesenharam o mapa de prioridades e, neste novo traçado, se colocaram ao alcance das PMEs. Ganharam capilaridade, apostando tanto na ampliação do atendimento virtual quanto na presença física, seja montando estruturas próprias por meio de expansão geográfica ou buscando parcerias com empresas das localidades onde as demandas se mostram atrativas.
 
Atenta às peculiaridades do setor, as empresas “empacotaram” soluções sob medida, integraram softwares, desenvolveram equipamentos, formaram equipes específicas para atender o segmento, abriram linhas de financiamento e colocaram suas estruturas físicas e seus produtos à disposição dos clientes. A integração de sistemas possibilitou agilidade na tomada de decisões e sinergia de processos, reduzindo custos de produção e gerenciamento, ao mesmo tempo em que abriu espaço para novos insights em relação ao mercado.
 
"A possibilidade de armazenamento e acesso remoto de dados e de sistemas de informação, compartilhando infraestrutura das grandes empresas, já há alguns anos decretou a derrubada das paredes dos grandes ‘CPDs’, cujos gastos com espaço físico e manutenção do ambiente eram incompatíveis com o porte das pequenas empresas. A novidade ainda possibilitou a adoção de práticas sustentáveis como a redução do consumo de água e energia elétrica."
 
Nesta nova realidade, em que outras fronteiras vêm sendo desbravadas, as inovações chegam ao mercado moduladas para atender clientes de diferentes portes, eliminando as barreiras tecnológicas entre grandes e pequenos, quando se trata de obter eficiência e produtividade com custos acessíveis.
 
O modelo de cloud computing, ou a computação na nuvem, por exemplo, tem tudo para levar sofisticação às soluções tecnológicas para as pequenas e médias empresas. As PMEs passam a ter um horizonte favorável para crescerem, apoiadas por tecnologias de ponta que suportem seus processos e alavanquem seus negócios.
 
 
 
 
 
 
ANDRADE, Álvaro; Pequenas e médias empresas abrem oportunidades para segmento de TI. Gente e Mercado. 2012. Disponível em



 
 

Serviços de localização = Mina de ouro!!!

Nokia anuncia novo serviço de mapas, aplicativo para iPhone e parceria com Mozilla

Por: BRIAN X. CHEN
 
A Nokia ainda não encontrou seu caminho para uma virada bem sucedida no mercado de smartphones. Enquanto isso, a empresa tenta colocar seus tentáculos em aparelhos rivais por meio de seus mapas, que podem ajudar a empresa a melhorar seu serviço.
 
A empresa disse nesta terça-feira (13) que, nas próximas semanas, lançará um aplicativo de mapas chamado Here na App Store, da Apple. Será um download gratuito para donos de iPhone, iPad e iPod touch. A empresa ainda afirmou que disponibilizará um kit para programadores desenvolverem para Android aplicativos que usem mapas da Nokia. E ela está formando uma parceria com a Mozilla para criar recursos de localização para seu novo sistema operacional, o Firefox OS.
 

Reprodução
Here, novo serviço de mapas da Nokia
Here, novo serviço de mapas da Nokia
 
A Nokia enfatizou o poder e a eficácia de seu banco de dados de mapas, que tem informações sobre 200 países, em um esforço para distinguir os seus novos smartphones Lumia dos competidores. Quando o novo sistema de mapas da Apple demonstrou ter falhas embaraçosas, a Nokia publicou um artigo em um blog que comparava seus mapas aos da Apple e aos do Google e, claro, concluía que os da Nokia eram os melhores.
 
Stephen Elop, executivo-chefe da empresa, disse em uma entrevista que, para garantir que sua plataforma de mapas permaneça competitiva, ela precisa de muitos usuários. Quanto mais pessoas procurarem rotas ou locais em seus mapas, mais inteligente o sistema fica. E a Nokia pode ainda criar recursos de localização exclusivos para os aparelhos Lumia, disse Elop.
 
Se o aplicativo de mapas da Nokia para iPhone for lançado em breve, a empresa poderá levar uma vantagem em relação ao Google. O antigo aplicativo de mapas da Apple usava dados do Google, e agora o Google está desenvolvendo o seu próprio aplicativo de mapas para iOS.
 
A Nokia também anunciou que chegou a um acordo para adquirir a Earthmine, um empresa de mapas baseada em Berkeley, na Califórnia, especializada em mapas tridimensionais que mostram imagens do nível da rua. Ela espera concluir o acordo até o final do ano. Doug Dawson, um porta-voz da Nokia, recusou-se a dizer quanto a empresa estava pagando pela Earthmine.
 
 
 
 
CHEN, Brian X.; Nokia anuncia novo serviço de mapas, aplicativo para iPhone e parceria com Mozilla. DO "NEW YORK TIMES". Tec. Disponível em



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Voando alto

O voo alto da Azul

 
David Neeleman, presidente da companhia aérea Azul, quer transformá-la na maior do País nos próximos dez anos. Ele conta à DINHEIRO como mais que duplicou o faturamento em um ano, para R$ 4 bilhões, e detalha sua estratégia para desbancar a TAM e a Gol.
     
Por: Hugo Cilo
 
A rotina se repete, religiosamente, uma vez por semana. Toda segunda-feira à noite, o presidente da Azul Linhas Aéreas, David Neeleman, se despede de sua mulher, Vicki, e de seus nove filhos, na pacata cidade de Nova Canaan, no Estado americano de Connecticut, e parte para o aeroporto JFK, em Nova York, onde embarca rumo ao Brasil. No dia seguinte, pela manhã, se reúne com os principais executivos de sua companhia aérea, na sede da empresa, em Barueri, na Grande São Paulo, para fazer um balanço dos negócios na semana que passou e definir as estratégias para os próximos dias. Às quintas-feiras, o empresário filho de missionários mórmons, nascido e criado no Brasil até os 6 anos de idade, faz o caminho inverso para os Estados Unidos, de volta à sua confortável mansão de 13 mil m², com oito quartos, avaliada em mais de US$ 17 milhões.
 
2.jpg
David Neeleman, presidente da Azul: "Queremos crescer, transportar mais passageiros
a cada dia e, claro, ganhar dinheiro"
 
O intenso vaivém de Neeleman tem, segundo ele, um único objetivo: construir a maior companhia área do Brasil nos próximos dez anos. “Queremos crescer, transportar mais passageiros a cada dia e, claro, ganhar dinheiro”, afirmou o empresário, em entrevista exclusiva à DINHEIRO, em São Paulo. “Ser a maior companhia aérea do País em menos de dez anos será uma consequência.” Por trás dessa ambição, está a essência do jeito Neeleman de fazer negócios. Para os mórmons, a riqueza e a prosperidade financeira são vistas como bênçãos, o que nem sempre ocorre em outras religiões. Seu foco é a nova classe média e suas viagens pelos rincões do Brasil.
“Não tenho nenhum receio em dizer que nossa ambição é consolidar a Azul em um mercado ainda elitizado, em que voar de avião é visto pela maioria da população como um privilégio de gente rica”, diz Neeleman. “Quando o governo e as agências reguladoras conseguirem enxergar com clareza o potencial do mercado brasileiro, e os aviões levarem desenvolvimento a lugares que hoje estão praticamente isolados, haverá uma grande mudança no perfil econômico do País. Quero participar disso”, afirma o empresário. Esse potencial já começa a se expressar nos números da Azul, companhia aérea focada em rotas regionais. Depois de unir suas operações com a Trip, uma empresa com o mesmo perfil, a Azul passou a responder por uma fatia de 15% do mercado aéreo do País.
Tem uma frota de 115 aviões e 33% de todas as rotas locais. Depois de transportar 12 milhões de pessoas no ano passado, a Azul já levou 20 milhões neste ano, até setembro. Cerca de 80% desses clientes são novos consumidores, que nunca haviam voado antes. Neste ano, a empresa espera obter um faturamento de R$ 4 bilhões, cifra duas vezes maior que o R$ 1,72 bilhão obtido no ano passado – que já havia dobrado em relação aos R$ 871,1 milhões de 2010. A empresa, de capital fechado, não revela o balanço completo. Mas a DINHEIRO apurou que o azul está tomando o lugar do vermelho nas demonstrações contábeis. Em 2011, a Azul obteve seu primeiro lucro operacional desde que começou a voar pelos céus brasileiros.
Os últimos balanços, divulgados em agosto, mostram um ganho de R$ 25,1 milhões. É pouco, mas significa muito diante dos prejuízos operacionais de R$ 50,8 milhões, em 2010; de R$ 142,8 milhões, em 2009; e de R$ 36,3 milhões, em 2008. A expectativa de lucro líquido (após os impostos) em 2012 é de R$ 52 milhões, dos quais cerca de R$ 19 milhões provenientes da Trip. “Estamos cumprindo a nossa parte e fazendo da Azul não apenas uma grande companhia aérea, mas a mais eficiente do setor aéreo”, diz Neeleman. Para 2013, a expectativa é de que o faturamento fique entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões, um feito admirável em um setor que tem vivido mais tristezas do que alegrias.
 
 
3.jpg
Menos é mais: com operação mais enxuta nos aeroportos e dentro dos aviões, e diferenciais
como tevês individuais e programação ao vivo, a Azul quer uma rentabilidade maior por voo
 
Qual o segredo da multiplicação dos resultados? “Elaboramos um modelo de negócio, uma fórmula própria para o Brasil, em que somos os únicos e que tem dado muito certo”, revela Neeleman. Essa fórmula brasileira, desenvolvida por Neeleman durante suas idas e vindas ao País, se inspirou no bem-sucedido modelo de negócio da americana JetBlue, empresa fundada por ele em 1999, que chegou a ser a mais valiosa dos Estados Unidos no início dos anos 2000. A estratégia se baseia, principalmente, na otimização dos custos. A começar pela frota. Todos os aviões da Azul são jatos produzidos pela Embraer, modelos E190 e E195, ou aeronaves da fabricante franco-italiana ATR 72-200 e o 72-600 – turboélices que consomem até 40% menos combustível em relação aos grandes jatos da Boeing e da Embraer, e apropriados para voos de até 700 quilômetros de distância e para pousos em aeroportos de pistas curtas.
No caso das aeronaves da Embraer, que têm autonomia de até 4,5 horas de voo, o suficiente para ligar Porto Alegre a Manaus, o consumo de combustível é 24% menor em comparação ao de um Airbus A320, segundo a fabricante de São José dos Campos. Um voo de Guarulhos para Brasília, por exemplo, queima 3.921 litros de querosene no modelo A320, enquanto o E190, da Embraer, gasta 2.980 litros para fazer o mesmo trajeto. Em cifras, a diferença média é de R$ 1.780. “Num mercado em que o querosene de aviação representa de 38% a 45% do custo total de uma empresa aérea, mais economia de combustível e manutenção são diferenciais que fazem toda diferença”, afirma Mauro Reis, especialista em aviação comercial, do Instituto do Ar da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro.
Além de mais econômicos, os aviões são mais baratos. Enquanto os jatos Embraer custam de US$ 30 milhões a US$ 38 milhões, e os ATR em torno de US$ 20 milhões, os Airbus e Boeing valem até US$ 65 milhões. Embora tenham capacidade para transportar um número menor de passageiros do que a Gol e a TAM (até 118 pessoas, no caso dos jatos Embraer, contra 174 dos modelos 737-700 e A320 das concorrentes), os aviões da frota da Azul têm uma taxa de ocupação maior do que as rivais. Com isso, Neeleman garante uma rentabilidade maior por voo. O índice de utilização dos assentos da companhia é de 84%, contra uma média nacional de 75,5%, calculada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
No final do ano passado, essa diferença era ainda maior: 85,5% na Azul, contra 68,7% da média das companhias brasileiras em rotas domésticas. Na prática, isso significa que os jatos da Azul transportam, em média, 99 passageiros por voo (com 19 cadeiras vagas), enquanto as aeronaves maiores, com capacidade para 35 pessoas a mais, voam com 39 assentos desocupados. “Esse cálculo só é uma vantagem enquanto a taxa de ocupação das concorrentes for menor”, disse Reis. “Pode se tornar uma desvantagem, no futuro, se TAM, Gol e Avianca, com aviões que comportam mais passageiros, conseguirem lotar seus voos, algo que não aconteceu ainda.” Outro ponto fundamental na cartilha de Neeleman para o mercado brasileiro é o tempo que as aeronaves se mantêm no ar.
 
 
4.jpg
Voando longe: para o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, modelo de negócio focado em voos regionais não interessa.
Ao lado, cena do caos aéreo que afeta todo o setor
 
Segundo o empresário, a frota da companhia passa 14 horas por dia voando, em média, graças a uma malha muito pulverizada, focada em voos regionais. Existem, por exemplo, voos sem escala de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a Sinop, em Mato Grosso, além de centenas de outras rotas em que a companhia opera sem concorrência. “Um jato nosso que sai de Campinas, no interior paulista, a principal base operacional da empresa, rumo a Fortaleza, por exemplo, pode pingar em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e outros aeroportos menores, mantendo o avião cheio e por mais tempo em operação”, detalha Neeleman.
O modelo de operação da Azul não apenas a destaca entre as companhias aéreas brasileiras como também serve inspiração para várias companhias lá fora. Segundo a Embraer, as 14 horas diárias de voo de cada avião fazem da Azul a número 1 em eficiência de utilização das 900 aeronaves em operação em todo o mundo, à frente das 11 horas médias da Austral, da Argentina, e das 10 horas da Air Canada. “Não existe avião melhor ou pior do que o outro, mas existe avião adequado para cada tipo de operação, algo que o Neeleman sabe administrar como poucos”, diz Luiz Sérgio Chiessi, diretor de inteligência de mercado de aviação da Embraer.
“O grande segredo da Azul está na operação de aviões menores em rotas regionais, de menor densidade, enquanto a Gol e a TAM precisam voar em trechos de grande demanda para manter os aviões cheios.” Estar focada em voos regionais, no entanto, é algo que exige da Azul um exercício constante de ajustes das rotas aéreas – algo que, frequentemente, gera problemas com os clientes que já compram suas passagens. Para evitar que trechos onde não há demanda canibalizem a rentabilidade das rotas lucrativas, a companhia não hesita em cancelar voos a menos de uma semana da data da viagem. É o que ocorreu na última semana, por exemplo, com um voo da madrugada que partia de Campinas, no interior paulista, maior base operacional da empresa, para Ilhéus, na Bahia.
“As companhias estão atacando em várias frentes para otimizar suas operações, seja com ajustes em suas rotas menos rentáveis e com um número menor de funcionários, seja com a redução dos custos operacionais nos aeroportos”, diz o diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo (Cepta) Respício do Espírito Santo. “Esses ajustes podem gerar atritos.” Apesar disso, a Azul tem índice de reclamação por atrasos, cancelamentos e mau atendimento menor do que as concorrentes. Em outubro, segundo a Secretaria da Justiça e Defesa do Consumidor, a empresa de Neeleman registrou um índice de reclamações de 6%, atrás das líderes TAM e Gol, com 10% e 7%, respectivamente.
 
 
5.jpg
Concorrência apertada: a vice-líder no mercado brasileiro, comandada pelo presidente Paulo Kakinoff, prepara sua reação com promoções e descontos
 
 
Além disso, a empresa tem investido em alguns, digamos, mimos para conquistar clientes. A última decisão foi a instalação de sistema de tevê ao vivo, em parceria com a Sky, tecnologia que custou R$ 100 milhões à Azul. A empresa instalou antenas especiais em seus aviões para captar o sinal de um satélite posicionado no Hemisfério Norte, tornando-se a primeira companhia aérea da Amé­rica Latina a oferecer esse serviço. De volta à questão dos custos operacionais, a Azul tem a seu favor também a menor despesa com mão de obra. Em razão do número menor de passageiros por voo, são utilizados dois comissários por avião, além dos pilotos. Nos jatos de maior porte, seriam necessários de três a cinco comissários.
O número de funcionários dentro dos voos, um comissário para cada 50 assentos, é um requisito de segurança para certificação da aeronave e está sujeito à fiscalização da Anac. O crescimento da Azul não ocorre apenas por mérito próprio, mas também pelas dificuldades das concorrentes de um setor que cruza céus turbulentos. As líderes TAM e Gol têm encolhido suas operações. A TAM, líder do mercado brasileiro, cortará funcionários a partir de fevereiro, reduzindo também em 7% a oferta de assentos e diminuindo a frota atual de 115 aviões para 112. No segundo trimestre deste ano, a empresa teve prejuízo de R$ 928 milhões. Já a Gol, pilotada pelo executivo Paulo Kakinoff desde junho, teve prejuízo de R$ 715 milhões no segundo trimestre.
No caso das duas companhias, os fatores que levaram às perdas são os mesmos: a variação cambial, que encarece o combustível (houve desvalorização de 23% do real em relação ao dólar em 2012), e a alta do querosene. Este subiu, em reais, 33% desde janeiro. Segundo o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, a manobra que a empresa rascunha para 2013 faz parte de um processo de ajuste no mercado doméstico e de melhorias de seus modelos de gestão. “A ordem é dar maior racionalidade à empresa e aprimoramento da disciplina de capacidade”, disse Bologna à DINHEIRO. Traduzindo: colocar o máximo de passageiros por voo, priorizando as rotas mais rentáveis. Ele não teme a concorrência.
“Somos a maior empresa aérea do País, com a maior capacidade de transporte de passageiros e a melhor tecnologia de gestão, que continuará sendo aperfeiçoada a cada dia.” O contra-ataque de Bologna, ao que tudo indica, começará na tentativa de ampliar o índice de ocupação de seus voos, atualmente em 78%. “Temos, sim, um custo maior por trecho em comparação às companhias que operam com aviões de pequeno porte, mas nosso custo por passageiro é proporcionalmente menor”, afirma. Ele nem cogita seguir o modelo da Azul. “Empresa que não gosta de gastar combustível não pode entrar na aviação”, cutuca o presidente da TAM. “Nossa frota é composta por aviões de longo curso e continuaremos focados nesses trechos, enquanto os aviões menores, como os ATR, são apropriados para rotas muito curtas, onde não nos interessa operar”.
Procurado pela DINHEIRO, Kakinoff, da Gol, não deu entrevista. A batalha das companhias aéreas para reduzir custos e aumentar o índice de ocupação dos voos tende a beneficiar o consumidor, que terá à disposição cada vez mais promoções. No primeiro semestre, a tarifa média em voos nacionais ficou em R$ 272,64, valor 36,2% menor em comparação ao cobrado dez anos atrás – quando a tarifa custava R$ 427,16, segundo a Anac. Para encher seus aviões e se manter mais tempo voando, as companhias lançaram descontos para o fim de ano com passagens a preço de ônibus – um voo da Azul, de Campinas para o Rio de Janeiro, está R$ 75,90, preço semelhante ao cobrado por TAM e Gol. Mais do que uma oportunidade para quem pretende viajar, a disputa entre as companhias, mais acirrada com o crescimento da Azul, prenuncia algo de novo nos céus.
 
 
6.jpg


 
“Três não é demais”
 
Apesar do forte aumento de custos, Neeleman afirma que a saída para o setor é popularizar a viagem de avião.
 
7.jpg


 
O presidente da Gol, Paulo Kakinoff, disse recentemente que considera três empresas aéreas demais para o mercado brasileiro. O sr. concorda?
 
De forma alguma. Em nenhum mercado do mundo três são demais. Ele não deve achar isso de verdade. Quem acha que três é demais, precisa sair. Nós não vamos. Todo o setor está enfrentando um forte aumento de custos, é verdade. O combustível subiu. O dólar subiu. A concorrência também está maior, achatando as margens. A taxa de aeronavegabilidade, cobrada pelo governo, foi reajustada em 150% no início deste ano e será aumentada em mais 83%, em janeiro de 2013.
Mas o governo acabou de anunciar uma desoneração para o setor aéreo.
 
A elevação da taxa representará um gasto de R$ 150 milhões a mais por ano, algo incompatível com o discurso de desoneração do governo federal. A desoneração da folha de pagamento, que recebemos muito bem e que entra em vigor em janeiro, nos dará uma economia de R$ 50 milhões. Ou seja, o governo deu 50 e tirou 150.
A fusão com a Trip não amortecerá o impacto do aumento de custo?
 
Em parte, sim. Teremos um ganho de R$ 450 milhões em sinergia assim que as duas empresas estiveram com a união totalmente concretizada.
O sr. pensa em comprar alguma concorrente, como a Gol ou a Avianca?
 
Mesmo que eu quisesse, a Anac não permitiria. Mas, até onde eu sei, elas não estão à venda. A TAM está com a chilena LAN. A Gol acabou de concluir a aquisição da Webjet. Embora as duas estejam em situação mais crítica que a nossa, operando no vermelho, não manifestaram o interesse de vender algo. Já a Avianca possui um número restrito de rotas, é pequena, e atua com aviões que não estão em nosso perfil operacional. Ouvi dizer, inclusive, que a Avianca está interessada em comprar a portuguesa TAP.
Quando a Azul começará a voar para fora do País?
 
Isso está em nossos planos, mas não para colocar em prática agora. Nossa meta é fazer a Azul crescer no País, se consolidar como a maior e mais eficiente empresa área do País. Essa é nossa prioridade.
O sr. pretende abrir o capital da Azul para capitalizar a empresa e sustentar os planos de crescimento?
 
Sim, faremos a abertura de capital. Mas não é o momento. O mercado de ações ainda está contaminado pela crise lá fora. Quando percebermos que é um bom momento, faremos isso.
O modelo de negócio da Azul é igual ao da JetBlue?
 
Antes de criar a Azul, quatro anos atrás, eu já havia fundado outras duas companhias que atuam no mercado aéreo nos Estados Unidos: a Morris Air, vendida à Southwest Airlines por US$ 20 milhões, em 1993, e a JetBlue, em 1999. A Azul segue um modelo semelhante ao da JetBlue, mas não é idêntico porque o mercado brasileiro é muito diferente do mercado americano.
Melhor ou pior?
 
É diferente. Algumas coisas que acontecem aqui são mais difíceis de entender. Vou dar um exemplo. Nós poderíamos operar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mas não somos autorizados. Depois do acidente da TAM, 2007, o número médio de voos no aeroporto foi reduzido de 50 para 34 por dia. O aeroporto de La Guardia, em Nova York, tem pista menor do que a de Congonhas e opera 70 voos por dia.
 
 
 
 
 
CILO, Hugo, O voo alto da Azul. Negócios. Disponível em

Colhendo os resultados...

Kirin enche o barril

 
Sob o comando dos japoneses, a Schincariol dá uma guinada em sua trajetória: retoma a vice-liderança e a venda de cerveja cresce 9%. A meta é fechar o balanço no azul.
     
Por: Rosenildo Gomes Ferreira
 
Quando os japoneses da Kirin desembolsaram R$ 6,2 bilhões para comprar a cervejaria brasileira Schincariol, em novembro do ano passado, eles sabiam que estavam adquirindo uma empresa problemática. Na época, a companhia com sede em Itu, interior de São Paulo, estava envolta em disputas familiares, possuía a imagem arranhada por conta de passivos fiscais e operava com um prejuízo de R$ 78,1 milhões. Para piorar a situação, ela perdera a segunda posição no ranking brasileiro de cervejas para o Grupo Petrópolis, dono das marcas Itaipava e Crystal. Mas com paciência e, principalmente, disciplina oriental, a empresa, comandada por Gino Di Domenico, um executivo paulista de origem italiana, conseguiu virar o jogo e encher os seus barris não apenas com o líquido dourado feito de cevada, malte e lúpulo, mas também com boas notícias.
 
41.jpg
Nova direção: "Agora, sabemos o que devemos fazer, e principalmente, o que não devemos",
diz Di Domenico, presidente da Schincariol, que foi rebatizada de Brasil Kirin
 
A começar pelos números. Nos oito primeiros meses deste ano, o Ebtida, índice que mede o ganho antes dos impostos, juros, amortizações e depreciações, atingiu R$ 300 milhões, montante equivalente ao obtido em todo o ano passado. A previsão é fechar 2012 em R$ 550 milhões. “Nosso primeiro desafio foi estabelecer prioridades e o novo foco da empresa”, afirma Di Domenico. “Agora, sabemos o que devemos fazer e principalmente o que não devemos.” A melhora do desempenho operacional é fruto direto da autonomia conquistada pela subsidiária. Nos últimos seis meses, Di Domenico passou envolvido em longas reuniões com interlocutores daqui e de Tóquio para desenhar um plano estratégico para a Schincariol.
Sua missão era simples: gerar retornos imediatos. “Cortamos o portfólio em até 25% em alguns mercados”, diz Di Domenico Com isso, ele privilegiou o gosto dos consumidores locais, apostando em produtos com chance de gerar resultados no curto prazo. Segundo o executivo, a estratégia foi bem-sucedida. Como exemplo citou dois casos: as vendas da marca de combate Glacial dobraram na região Norte, enquanto as da Devassa avançaram 50% no Nordeste. No geral, a venda de cervejas cresceu 9,9% de janeiro a outubro. Outra medida foi lançar uma “loura” específica para o mercado nordestino: a No Grau.
A recuperação vem sendo facilitada também por medidas estruturais adotadas pelo próprio Di Domenico, desde que ingressou na companhia, como diretor de operações, em 2008. “Já reduzimos em 70% as perdas com embalagens, em 40% com cerveja e economizamos, em 20%, o uso de água”, diz o executivo. O trabalho, no entanto, ainda está longe de ser concluído. A companhia quer ampliar no curto prazo sua presença. Hoje, está em 600 mil pontos de venda. O alvo é chegar a um milhão. Além disso, quer melhorar sua situação nas regiões Sul e Sudeste, onde a concorrência com a líder Ambev e a Petropólis é mais acirrada. Apesar disso, a situação da companhia hoje é outra aos olhos da matriz.
Basta olhar o próprio balanço internacional da Kirin. O Brasil e as nações emergentes surgem como a tábua de salvação para romper o ciclo de estagnação da economia japonesa, o principal mercado da Kirin. Nos três primeiros trimestres de 2012, a receita da divisão internacional da Kirin avançou 22,36%, comparado ao mesmo período do ano passado. No mercado doméstico, contudo, foi registrada uma queda de 1,94%. Levando-se em conta a receita bruta de R$ 6,1 bilhões da Schincariol, em 2011, o País representa 5% das vendas globais da Kirin. Para mostrar sua face global, a Schincariol também mudou sua assinatura institucional. A partir de agora, ela quer ser conhecida como Brasil Kirin. “Somos uma empresa globalizada com DNA brasileiro”, diz Di Domenico.
Para os analistas, a alteração da assinatura para a Kirin Brasil tem como objetivo romper com o passado e deixar claro tanto para os funcionários e parceiros quanto para o mercado que a Schincariol está, de fato, sob nova direção. “O nome remetia a apenas um dos produtos do portfólio”, afirma o consultor Adalberto Viviani, sócio da consultoria paulista Concept Consultoria, especializada em bebidas e alimentos. “Agora, eles querem mostrar que produzem muitas outras bebidas além de Schincariol.” Di Domenico promete para 2013 a inclusão de novos rótulos no portfólio vendido no Brasil. Antes disso, ele pretende concluir o dever de casa, usando a carta branca dada pelos japoneses. “Com isso, podemos tomar decisões de forma mais rápida,” afirma Di Domenico.
 
42.jpg
 
 
 
 
 
 
 
 
FERREIRA, Rosenildo Gomes,  Kirin enche o barril. NEGÓCIOS. Disponíve em