domingo, 20 de janeiro de 2013

Privacidade ameaçada

Internautas estão vulneráveis e não querem ser seguidos pela publicidade, diz professor

 

Por: RAUL JUSTE LORES
 
Cada vez mais incomodados com uma publicidade digital que invade a privacidade, os consumidores não têm quem os defenda, diz Joseph Turow, uma das mais fortes vozes sobre internet nos EUA.
 
Professor de comunicação da Universidade da Pensilvânia, o acadêmico é autor de pesquisas sobre o assunto e lançou em 2012 "The Daily You" [o você diário], com o sugestivo subtítulo "como a nova indústria da publicidade está definindo sua identidade e seu valor".
 
 Kyle Cassidy/Divulgação 
Joseph Turow, professor de comunicação da Universidade de Pensilvânia
Joseph Turow, professor de comunicação da Universidade de Pensilvânia
 
Para Turow, os internautas nunca estiveram tão vulneráveis --e não apenas pela privacidade escancarada das redes sociais. A seguir, trechos de sua conversa com a Folha, por telefone, da Filadélfia.
 
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Regras de conduta
Jornais e revistas historicamente criaram muros entre a Igreja e o Estado, o conteúdo jornalístico e a publicidade, com regras muito claras para diferenciar a propaganda. No mundo on-line, essas regras estão desmoronando. Tanto no Huffington Post como no Gawker [sites jornalísticos e agregadores de blogs], há anúncios com a mesma cara de reportagens.
 
Mimetizar conteúdo
A maior e mais proeminente mudança é dos anúncios que se querem fazer passar por conteúdo editorial. O Facebook tem links que mimetizam os posts de seus amigos, o Twitter tem tuítes que são anúncios, tudo desenhado para parecer um "artigo" verdadeiro, não propaganda. Querem que o internauta não perceba que é publicidade, porque já admitem que a publicidade se tornou um fator de irritação na internet.
 
Competição feroz
A competição por anúncios é muito mais feroz, então se faz de tudo para agradar o anunciante ou a agência. No mundo off-line é difícil, mas na internet, em que o valor por leitor é muito menor, as regras desaparecem.
 
Qualidade jornalística
A publicidade sempre quis se associar ao conteúdo de alguma forma. Um certo tipo de elite lê os jornais de maior qualidade, e era isso que a publicidade queria, ser ligada a essa qualidade jornalística. Hoje em dia, o público se pulverizou e pode estar em qualquer lugar, no site de fofocas. Então o anunciante quer estar em todo lugar, contanto que não seja de pornografia.
 
Menos de 1%
O Twitter é um dos mais bem-sucedidos nessa operação, pela própria natureza do veículo, de pílulas de 140 caracteres. Menos de 1% dos anúncios no Facebook, no Google e no Bing são clicados pelos internautas. É normal, são bem mais eficientes que mala direta, que ninguém abre.
Se os anúncios em revistas e jornais tivessem que ser clicados, não seriam muito mais acessados. Nas revistas, o anúncio precisa ser olhado de qualquer maneira, entre as reportagens.
 
Cegueira ao anúncio
Acontece cada vez mais a "banner blindness" (cegueira ao anúncio). As pessoas ignoram automaticamente o anúncio. O Google não faz dinheiro com cliques, mas ao oferecer as bilhões de vezes que os usuários o acessam diariamente. É audiência.
A publicidade que tem funcionado mais é a que oferece algo novo. Um game, um vídeo -mas, depois que a ideia aparece mil vezes, o apelo diminui. Não há receita infalível. A porcentagem de gente clicando em anúncios se mantém baixa e é estável.
 
Apreço à privacidade
Em pesquisas recentes, 86% dos americanos se disseram contrariados com propaganda exibida a partir do histórico de cliques e interesses. Internautas não gostam de se sentir seguidos ou monitorados.
Mesmo os jovens adultos, de 18 a 24 anos, que podem expor toda a sua vida no Facebook, posar de biquíni e falar coisas impróprias, respondem de forma muito parecida aos mais adultos sobre o direito à privacidade. Muitos se sentem incomodados com o excesso de propaganda que os persegue, graças a algum clique que deram ou a alguma pesquisa que fizeram.
 
O sucesso da Amazon
A Amazon é um caso raro de uso de um mecanismo de recomendação baseado em compras anteriores -o que deixa claro que eles monitoram nossas compras e nossas pesquisas- que não parece incomodar os usuários. O sucesso deles, acho, depende de diversos outros fatores, dos preços baixíssimos, às vezes abaixo do custo, de não pagar certos impostos, da eficiência da entrega, é uma máquina de varejo eficiente.
 
Exemplo europeu
Na Europa, o debate cada vez mais forte é de que o mercado deveria respeitar o direito à privacidade dos indivíduos e ao controle de seu dados. Nos EUA, estamos longe disso.
 
 
 
 
 
 
LORES, Raul Juste; Internautas estão vulneráveis e não querem ser seguidos pela publicidade, diz professor. NOVA YORK.Tec. Disponível em
<
http://www1.folha.uol.com.br/tec/1213782-internautas-estao-vulneraveis-e-nao-querem-ser-seguidos-pela-publicidade-diz-professor.shtml> acesso em janeiro de 2013.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Tarifas demais...

"Brasileiros pagam tarifas demais para comprar eletrônicos", diz presidente de feira

Por: LUCIANA COELHO
 
Gary Shapiro sonha com um acordo de livre-comércio entre Brasil e EUA.
À frente da CEA (Consumer Electronics Association), maior associação da indústria de eletrônicos dos EUA e promotora da feira CES, ele reclama das barreiras tarifárias do país, que afastam exportadores americanos interessados no mercado local.
 
Daniel Acker/Bloomberg
Gary Shapiro, presidente da associação que promove a CES, uma das maiores feiras de eletrônicos do mundo
Gary Shapiro, presidente da associação que promove a CES, uma das maiores feiras de eletrônicos do mundo
 
A falta de soluções em vista, porém, não o desanima. "Estive no Brasil algumas vezes, o país é lindo. Estou pensando em fazer um evento lá em algum momento", afirmou o executivo à Folha.
 
Por ora, entretanto, seu foco está na CES, a maior feira do gênero, que começa nesta segunda-feira (7) em Las Vegas e vai até sexta-feira. A expectativa de Shapiro é superar a marca de mais de 150 mil visitantes do ano passado.
 
Duas áreas devem ser responsáveis pelas maiores inovações tecnológicas nos próximos anos: a automotiva e a de saúde, na opinião de Shapiro.
 
Conhecido por apostar em empresas pequenas (ele lança um novo livro sobre inovação nesta semana, "Ninja Inovation"), Shapiro comemora o aumento de 40% na seção de start-ups do evento, o Eureka Park.
 
*
Folha - Soube que o sr. reclamou dos impostos no Brasil.
Gary Shapiro - Na CES, estamos incentivando brasileiros a virem. É que as tarifas [sobre importados] no Brasil são tão altas que os brasileiros gostam de comprar aqui.
 
A CEA mantém alguma negociação com as autoridades brasileiras a respeito dos impostos sobre eletrônicos?
Não. É um desafio que nossas empresas associadas enfrentam [são mais de 2.200, incluindo Apple, Microsoft, Dell]. É muito difícil exportar produtos eletrônicos ao Brasil, pois o custo dos importados fica muito alto por causa das tarifas. O consumidor brasileiro paga muito.
 
Qual seria a solução? A associação tem alguma proposta?
Seria ótimo se os EUA e o Brasil, em algum momento, tivessem um acordo de livre-comércio. Isso cobriria essa questão. Mas o Brasil tem uma estratégia para construir uma muralha [de impostos] em torno do país, mais do que qualquer outro... Não sei por que os consumidores brasileiros têm de pagar tanto a mais. Acho frustrante, mas não temos o que fazer. Está na mão do governo brasileiro.
 
Qual será a grande atração da CES neste ano? Algumas empresas estão dando menos atenção ao evento.
A exposição será a maior que já tivemos, historicamente. Teremos 3.000 empresas exibidoras e esperamos 150 mil visitantes -não só o público mas empresários também. Destes, 35 mil devem vir de fora dos EUA. Só do Brasil, em 2012, vieram 835 pessoas.
 
O impacto da crise global ainda se faz sentir ou podemos falar em recuperação?
Depende de qual período de tempo você observar. Há melhora, há sinais promissores, mas há a questão do crescente deficit fiscal nos EUA [que torna o cenário econômico e político instável e inibe o consumidor]. Depende de como nossos políticos lidarão com isso.
 
Como estão as vendas?
Para eletrônicos, houve ligeira melhora, e esperamos um pouco mais de avanço neste ano. Acho que isso se deve mais aos produtos, inovadores. O tablet foi o presente de Natal mais desejado em 2012, e neste ano esperamos vender um produto para cada americano -310 milhões de smartphones e tablets.
 
Fabricantes têm, cada vez mais, promovido eventos próprios para lançar seus produtos, como Apple e Microsoft fazem. Isso afetou a CES?
São eventos para a imprensa. Na CES temos 5.000 jornalistas também. E a feira estará lotada de expositores, não vejo competição.
 
Qual o perfil das novas empresas na feira?
Temos recebido empresas de carros, algumas das maiores montadoras do mundo participarão.
O setor de carros elétricos está crescendo muito.
Outro setor que cresce é o de saúde e bem-estar, com soluções para monitoramento de pacientes, exercícios, para cuidados com diabetes...
A maior área nova, porém, ainda é a de acessórios para aparelhos da Apple, que começou há três anos e só cresce. Nosso i-Lounge terá 440 empresas neste ano.
E o nosso parque de start-ups, o Eureka Park, cresceu 40% em relação a 2012. Além das companhias que exibirão a próxima geração de TVs, as Ultra HD. E dos tablets, dos telefones, dos aplicativos...

Feira CES de 2013

Televisores com resolução ultra-alta da Sony são exibidos no estande da marca durante a feira de eletrônicos CES de 2013, em Las Vegas (EUA)
 
Como será a participação das empresas que produzem aplicativos, redes sociais, coisas que não se compra numa loja?
Muitas empresas investirão nisso [na exposição], e um dos aspectos mais importantes é o da conectividade, tanto via redes sociais, para vender produtos, como em carros, em eletrodomésticos.
 
Acesso à internet é o próximo passo? O que o sr. prevê para esse mercado?
O IPv6, Protocolo de Internet 6, que dá a todo aparelho um endereço na internet, é cada vez mais comum. É o que alguns chamam de comunicação máquina a máquina, "internet das coisas".
Mas acho que o próximo avanço virá do setor de saúde, sobretudo porque os custos são muito altos e teremos que depender menos de médicos. Outro salto esperado é no setor automotivo: dentro de dez ou 20 anos teremos carros sem motorista.
 
E de todas as novidades, qual o empolga mais?
No longo prazo, com certeza são os carros sem motorista. No curto prazo, qualquer coisa que dê conexão à internet é capaz de mudar a vida das pessoas, sobretudo das mais pobres, ao oferecer acesso à informação, à educação e à assistência à saúde.
Tem uma empresa que acho muito legal, e da qual falo no meu livro "Ninja Innovation" [inovação ninja]: a Health Spot. Ela oferece uma salinha pequena, com acesso à internet, que pode ser instalada em qualquer lugar. A pessoa doente entra na salinha, senta-se em uma cadeira, é pesada, seus sinais vitais são medidos, sua pressão é tirada, a temperatura é checada, e eles dirão quais são os sintomas.
Por uma tela conectada à internet, o paciente consegue conversar com um médico, que pode pedir mais testes ou diagnosticar o problema.
Se a sala for instalada em uma farmácia, o paciente pode comprar o remédio imediatamente. Isso permitirá que os médicos atendam mais gente e que se economize tempo de deslocamento.
 
Editoria de Arte/Folhapress
*
RAIO-X
GARY SHAPIRO, 56
QUEM É
Presidente da CEA (Consumer Electronics Association); advogado e lobista
O QUE FAZ
Dirige a maior associação da indústria de eletrônicos nos EUA, com 2.200 associadas, e promove a CES; participou da criação das TVs HD
O QUE ESCREVEU
"The Comeback: How Innovation Will Restore the American Dream" (Midpoint Trade Books, 2011) e "Ninja Innovation" (Harper Collins, 2013)
 
 
 
 
 
COELHO, luciana; Brasileiros pagam tarifas demais para comprar eletrônicos", diz presidente de feira. WASHINGTON. Tec. Disponível em

domingo, 6 de janeiro de 2013

Novo epsódio na guerra de patentes da Apple

Ao que parece a Gradiente também resolveu entrar na guerra de patentes.

O dilema ainda continua...

05/01/2013

Foxconn enfrenta resistência para impor seu estilo em fábrica no Brasil


 

Por: SARAH MISHKIN
SAMANTHA PEARSON
 
Na árida cidade industrial de Jundiaí, a 56 km de São Paulo, milhares de operários se reuniram diante de uma fábrica local da Foxconn para protestar, em outubro. Enquanto as condições desgastantes de trabalho e as longas jornadas causaram tumultos e até mesmo suicídios entre os funcionários chineses da companhia, a queixa dos brasileiros era um pouco diferente: eles não gostavam da comida servida no refeitório.
 
A fabricante terceirizada de eletrônicos Foxconn deu início a um ambicioso plano de expansão no Brasil, que segundo as autoridades do país envolverá investimento de US$ 12 bilhões. Muitas das fábricas produzirão produtos Apple, a fim de evitar os impostos de importação que incidem sobre produtos embarcados da China --onde ficam a maior parte das fábricas de iPhones e iPads da companhia.
 
As novas fábricas no Brasil, onde os sindicatos são tradicionalmente fortes, estão enfrentando alguns desafios. Além do protesto de outubro em Jundiaí, onde a Foxconn tem 6.000 funcionários, os trabalhadores locais realizaram protestos por diversos outros motivos: de transportes superlotados às jornadas de trabalho longas e falta de planos de carreira para os funcionários.
 
"Greves não são comuns por aqui. O problema parece envolver apenas a Foxconn", disse um funcionário da prefeitura de Jundiaí.
 
 Carlos Cecconello/Folhapress 
Fachada da fábrica da Foxconn em Judiaí; empresa chinesa tem enfrentado diferenças trabalhistas no Brasil
Fachada da fábrica da Foxconn em Jundiaí; empresa chinesa tem enfrentado diferenças trabalhistas no Brasil
 
A Hon Hai Precision, sediada em Taiwan e conhecida mundialmente por sua marca comercial Foxconn, é a maior fabricante terceirizada de eletrônicos do planeta. Seu nome se tornou sinônimo das vastas cidades industriais chinesas onde centenas de milhares de jovens operários fabricam toda espécie de produtos eletrônicos, de celulares inteligentes para a Apple a servidores para a Dell.
 
A companhia agora está se expandindo também fora da China, em lugares tão distantes quanto os Estados Unidos, a Europa Oriental e a América Latina. Ela recentemente confirmou estar pensando em expandir ainda mais suas atividades nos Estados Unidos, depois que Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, principal cliente da companhia, anunciou que planejava investir mais na aquisição de produtos fabricados em seu território de origem.
 
Trabalhar fora da China permite que a Foxconn ofereça giro mais rápido aos seus clientes e que estes evitem alguns impostos de importação, mas também representa um novo conjunto de desafios para a empresa, que emprega mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo e produziu 81,6 bilhões de dólares de Taiwan (US$ 2,8 bilhões) em lucros líquidos no mais recente ano fiscal, sobre faturamento de 3,45 trilhões de dólares de Taiwan.
 
O DESAGRADÁVEL FAZ BEM
 
A Foxconn muitas vezes ingressa em novos mercados geográficos assumindo o controle e reformando velhas fábricas, no passado operadas por seus clientes. Mas seu estilo de gestão fortemente autoritário às vezes causa choque quando aplicado a culturas diferentes do sistema industrial chinês, o ambiente ao qual a empresa está mais acostumada.
 
"Eles querem mesmo empregar, ou melhor dizendo, forçar, aqui a mesma estratégia de gestão que usam na China, mas ela não funciona bem neste mercado", diz um antigo executivo da empresa nos Estados Unidos. "A estrutura da Foxconn é muito autocrática e creio que, para algumas pessoas, o sistema possa ser considerado degradante."
 
Desacordos como esse são um campo de batalha bem conhecido para Terry Gou, o presidente do conselho da Foxconn, cujos aforismos sobre gestão incluem frases como "um ambiente desagradável faz bem".
 
Gou fez da Foxconn a montadora preferida de empresas como a Apple ao exigir tanto de si e de seus funcionários que a escala, precisão e flexibilidade da Foxconn agora não têm rivais no planeta.
 
DIREITOS TRABALHISTAS
 
Isso resulta em confrontos até mesmo na China, onde os operários vão lentamente despertando para seus direitos.
 
A pressão sobre os supervisores de controle de qualidade para evitar riscos no revestimento de alumínio do iPhone 5 resultou em disputas violentas com operários na fábrica da Foxconn em Zhengzhou, China, no ano passado.
 
Isso aconteceu depois de uma série de suicídios em 2010 e de novos tumultos em 2012, que atraíram críticas internacionais generalizadas às condições de trabalho nas fábricas da Foxconn.
 
Agora, enquanto a empresa continua a construir fábricas novas na China, ela planeja se expandir em diversos outros mercados. A empresa investiu recentemente no Brasil, no México e na Turquia e afirmou estar planejando projetos nos Estados Unidos, Indonésia e Malásia.
 
 Qilai Shen - 26.mai.2010/Bloomberg 
Funcionários trabalham em linha de montagem de fábrica da Foxconn em Shenzhen, Guangdong, na China
Funcionários trabalham em linha de montagem de fábrica da Foxconn em Shenzhen, Guangdong, na China
 
EXPANSÃO MUNDIAL
 
"Muitas companhias semelhantes estão começando a avançar de uma estratégia de produção mundial para uma estratégia mais regional", disse David Simchi-Levi, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que se especializa em administração de cadeias de suprimentos. "É uma estratégia completamente diferente daquela que víamos as empresas usar há 10 ou 15 anos."
 
Para seus clientes, as fábricas da Foxconn fora da China podem permitir redução no custo de transporte, evitar taxas de importação e a obtenção de giro rápido de ordens. Uma companhia como a Dell, por exemplo, pode precisar vender computadores a um cliente empresarial que requer configurações específicas.
 
"Estamos aqui para servir os clientes, e é por isso que internacionalmente nós cuidamos da montagem final", diz um importante executivo da Foxconn na Europa.
 
A expansão internacional da empresa não é completamente nova, porque a Foxconn já é a segunda maior exportadora da República Tcheca, e opera lá e nos Estados Unidos há mais de uma década. Muitas dessas operações foram iniciadas quando a Foxconn assumiu o controle de fábricas de clientes fabricantes de bens de consumo, como a Sony e a HP (Hewlett-Packard), que desejavam cortar custos e responder por parcela menor da fabricação de seus produtos.
 
MÃO DE OBRA ÚNICA
 
Mas, a despeito dos apelos de executivos como Cook para que parte das operações industriais de suas empresas retorne aos Estados Unidos, a vasta maioria do trabalho da Foxconn continuará a acontecer na China, cuja força de trabalho barata e grande a torna única, dizem especialistas.
 
Leis de salário mínimo e custos de vida mais altos em outros países significam que a Foxconn tem de pagar mais aos seus trabalhadores fora da China --um salário inicial de US$ 550 ao mês no Brasil, ante o salário básico de US$ 300 em sua fábrica em Zhengzhou, por exemplo. Apenas algumas dezenas de milhares dos 1,2 milhão de trabalhadores da companhia operam fora da China e de sua sede em Taiwan, de acordo com entrevistas com funcionários e declarações da empresa.
 
A despeito de greves ocasionais em lugares como o Brasil, as operações internacionais da Foxconn em geral vêm conseguindo evitar os conflitos violentos experimentados na China.
 
As diferenças culturais não pesam tanto porque a maioria dos executivos empregados pela empresa no exterior são cidadãos locais, dizem pessoas que conhecem bem as operações da Foxconn.
A companhia afirma que "nossas equipes são nacionalizadas, seja na linha de montagem ou no comando executivo, porque incentivamos fortemente o bom entendimento das culturas locais".
 
TRABALHO VANTAJOSO
 
Para as fábricas que a Foxconn constrói ou nas quais investe, e para seus funcionários, trabalhar para a empresa taiwanesa pode ser vantajoso.
 
Um antigo engenheiro em uma fábrica que a Foxconn comprou da Motorola no México disse que os novos proprietários cortaram muito os custos --nada de hotéis de luxo durante as viagens executivas, nada de gastos elevados com jardinagem no complexo fabril--, mas também lhe deram mais flexibilidade para procurar novos projetos a fim de expandir o faturamento.
 
E, a despeito das frustrações causadas pelo esforço de conciliar as diferentes culturas que convivem na Foxconn, disse uma executiva que trabalhou para a empresa quase por dez anos nos Estados Unidos, a presença mundial do grupo taiwanês e sua capacidade de depender de funcionários estrangeiros para manter o contato com os clientes estrangeiros lhe conferem vantagens significativas.
 
"Eles conseguem montar um verdadeiro exército com tamanha rapidez, quando querem um negócio", ela disse. "Conseguem fazê-lo sem causar atrito? Provavelmente não, mas fazem o serviço."
 
Tradução: PAULO MIGGLIACCI
 
 
 
 
 
MISHKIN, Sarah; SAMANTHA, Pearson; Foxconn enfrenta resistência para impor seu estilo em fábrica no Brasil.  "FINANCIAL TIMES". Mercado. Disponível em