sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mobilidade total

No mundo móvel, gigantes da tecnologia correm para recuperar o atraso
 

A Intel fez fortuna fabricando processadores de computadores pessoais, e a Microsoft com o software que os equipa. O segredo do Google é encontrar o que as pessoas procuram na internet. Mas o chão está se movendo por sob esses gigantes da tecnologia devido a uma importante força: a ascensão dos aparelhos móveis.
Essas e outras empresas de tecnologia estão na corrida para reinventar seus modelos de negócios agora que o modelo antigo --um cliente estacionário sentado a uma mesa estacionária-- já não se aplica. E por isso empresas que no passado demoliram os modelos de negócios então estabelecidos, da venda de livros e música às reservas em hotéis, agora vêm tendo sua posição solapada pela adoção generalizada dos smartphones e tablets.
"As empresas estão sendo forçadas a reordenar seu pensamento, e a descobrir o que seus clientes estão fazendo nos canais móveis, e em que isso difere daquilo que propiciam a eles pelos canais da web tradicional", diz Charles Golvin, analista da Forrester Research, grupo de pesquisa em tecnologia.
Ele acrescenta: "É hilariante falar da web como um negócio tradicional, como se existisse há séculos, mas ela é um negócio do século passado".
Os gigantes do setor continuam a ser propulsores econômicos fortemente lucrativos. Mas a virada do mundo em direção a aparelhos de computação móvel causa estrago, o que inclui os resultados decepcionantes anunciados por Google, Microsoft e Intel na semana passada, em larga medida por conta de receita insuficiente com operações móveis.
 
Isaac Brekken/The New York Times
Mandy Chan usa seu telefone em uma loja da rede Target em Las Vegas (EUA)
Mandy Chan usa seu telefone em uma loja da rede Target em Las Vegas (EUA)
 
Os investidores estão vivendo suspense quanto aos resultados do Facebook, que serão anunciados na terça-feira, por motivos parecidos. Marissa Mayer, a nova presidente do Yahoo, declarou na segunda-feira que sua companhia não havia conseguido tirar vantagem da internet móvel, e que precisava se tornar uma empresa na qual os serviços móveis predominem.
A demanda por chips da Intel em computadores --muito mais lucrativos do que os usados nos smartphones-- está despencando. Na Microsoft, as vendas de software para computadores pessoais sofrem queda acentuada. No Google, os preços pagos pelos anunciantes quando usuários clicam anúncios vinculados a resultados de busca estão em queda há um ano. Isso acontece, em parte, porque os anúncios em aparelhos móveis registram crescimento explosivo. Eles custam menos que os anúncios na internet, e os anunciantes ainda não descobriram a maneira mais efetiva de utilizá-los.
Desde sua oferta pública inicial, o Facebook perdeu metade de seu valor em Wall Street devido à pressão por melhor desempenho no setor móvel; hoje, 60% dos usuários do Facebook usam seus celulares para acessar a rede social.
 
AGILIDADE
 
Obter lucros dependerá, daqui em diante, da agilidade com que as empresas consigam acompanham seus clientes dos computadores de mesa aos celulares, e com isso às lojas, cinemas e pizzarias onde eles gastam seu dinheiro. Também dependerá de como os consumidores --e as autoridades regulatórias-- reagirão a ter todos os seus movimentos monitorados.
O Facebook já está experimentando maneiras de usar o que sabe sobre seus usuários para exibir-lhes anúncios quando estiverem usando aplicativos móveis. O Google, por exemplo, pode vincular aquilo que um usuário conectado faz em seu computador e celular, para mostrar-lhe no celular um anúncio relacionado a buscas que ele tenha feito no computador de casa. Mas na semana passada as autoridades regulatórias europeias instruíram o Google a alterar suas normas de privacidade, que permitem que a empresa recolha informações centralizadas sobre usuários nas diversas plataformas que a companhia opera, como o Gmail e o YouTube.
Além disso, a Nielsen constatou que apenas 20% dos usuários de smartphones consideram anúncios em celulares "aceitáveis".
 
'REVOLUÇÃO DOS SMARTPHONES'
 
Hoje, cerca de metade dos norte-americanos têm celulares inteligentes, de acordo com a comScore --um ritmo de adoção espantosamente rápido desde que a Apple lançou o iPhone, há apenas cinco anos. O tempo que as pessoas dedicam a navegar na web, jogar jogos on-line e ouvir música via internet com seus celulares dobrou nos dois últimos anos, para 82 minutos diários, de acordo com a eMarketer. O tempo passado on-line em computadores crescerá em apenas 3,6% este ano.
"O que apanhou as pessoas desprevenidas foi a aceleração da multidão de coisas que se pode fazer com um smartphone", disse David Yoffie, professor da escola de administração de empresas da Universidade Harvard que estuda o setor de tecnologia.
"A web surgiu em 1993 ou 1994", diz. "E demorou 15 anos para mudar tudo. A revolução dos smartphones começou há apenas meia década. Por conta da existência da web, permitiu que os celulares tivessem impacto transformador em muito menos tempo".
Ainda assim, o setor móvel oferece grandes oportunidades a essas empresas, dizem analistas do setor. Isso acontece principalmente porque as pessoas revelam mais sobre si mesmas no celular do que nos computadores, dos lugares a que vão e seus horários de dormir às pessoas com quem conversam e as coisas que desejam comprar.
Os consumidores podem se incomodar com a intrusão dos anunciantes em suas vidas cotidianas, mas as empresas alegam que as compensações podem estar à altura --um alerta de agenda avisando que você está atrasado para um compromisso, ou um cupom de desconto que surge quando você passa por perto de um estabelecimento.
"Estamos começando a viver uma nova realidade, onde a onipresença das telas ajudará os usuários a saltar da intenção à ação muito mais rápido e com menos dificuldade", disse Larry Page, presidente-executivo do Google, a analistas, na semana passada.
"Isso criará novas oportunidades na publicidade".
 
SOLUÇÕES
 
As empresas vêm enfrentando esses desafios de diversas maneiras. A despeito da decepção quanto a seus resultados mais recentes, o Google informa que está a caminho de faturar US$ 8 bilhões com anúncios, aplicativos e mídia móvel, no ano que vem, e ativou meio bilhão de aparelhos acionados por seu sistema operacional, o Android. O Google fica com a maior parte das verbas publicitárias destinadas aos aparelhos móveis.
Está oferecendo anúncios com base em localização, como uma campanha da T-Mobile que encaminhava anúncios a usuários quando eles passavam perto de lojas da empresa, disse Patrick Pichette, vice-presidente financeiro do Google.
Mas um dos maiores desafios para o Google é rastrear se as pessoas fazem uma compra depois de verem um anúncio móvel. Ao contrário da mídia on-line, onde o Google tem como saber se alguém comprou uma câmera depois de buscá-la com seu programa, a empresa não sabe se alguém que procurou um restaurante tailandês próximo de sua localização terminou jantando lá. É por isso que vem tentando acompanhar as pessoas ao mundo físico, com serviços como o Wallet, de pagamento com celulares, e o Offers, que oferece descontos.
O Facebook está tentando usar o que sabe sobre seu bilhão de usuários para dirigir anúncios a aplicativos que estes baixem para seus celulares. Por exemplo, uma marca de refrigerantes que tenha como target o público masculino de Los Angeles, e especificamente os torcedores do Lakers, poderia encaminhar anúncios a esse grupo não apenas quando estão conectados a um app móvel do Facebook mas também quando usarem outros aplicativos.
"Acreditamos que exibir anúncios móveis fora do Facebook seja outra maneira excelente de permitir que as pessoas vejam anúncios relevantes e descubram aplicativos novos", afirmou a companhia em resposta a uma pergunta encaminhada por e-mail.
A Microsoft não quer ficar assistindo dos bastidores, enquanto as pessoas trocam os computadores por smartphones, e por isso na sexta-feira lançará uma versão de seu sistema operacional Windows que poderá ser usada para aparelhos com telas de toque, e um novo tablet, o Surface.
Mas executivos da Microsoft disseram a analistas na semana passada que a desaceleração na tecnologia da computação se devia a outros fatores além dos aparelhos móveis, por exemplo as condições econômicas desfavoráveis e a espera das empresas para comprar novos equipamentos só depois do lançamento do Windows 8.
Steve Ballmer, presidente-executivo da Microsoft, definiu o Windows 8 como "o começo de uma nova era para a empresa".
 
CORRENDO ATRÁS
 
A Intel está tentando recuperar o atraso produzindo chips para mais de duas dúzias de modelos de celulares inteligentes e tablets que estão por chegar ao mercado. A transição para o setor móvel criou um novo mercado para a companhia, além disso, já que seus chips acionam os poderosos servidores que acionam as redes de computação em nuvem onde boa parte dos dados usados pelos aparelhos móveis ficam armazenados.
"Durante a evolução do mercado dos smartphones e dos tablets, a empresa historicamente não esteve presente", diz Jon Carvill, porta-voz da Intel. "Este ano, isso começou a mudar".
Para outras empresas de tecnologia, os aparelhos móveis foram benefício desde o começo. A Apple se tornou a companhia mais valiosa dos Estados Unidos vendendo o iPhone e o iPad.
Recentemente, ela desenvolveu um serviço próprio de mapas para substituir o do Google no iPhone, em parte porque deseja manter para si as valiosas informações quanto a buscas baseadas em localização, privando os concorrentes desses dados.
A Nvidia e a Qualcomm fabricam processadores para os aparelhos moveis. Amazon e eBay vendem produtos a consumidores mesmo nas pequenas telas dos celulares. E os proprietários de smartphones consideram que alguns serviços --como o Ziller, para imóveis; o Yelp, para empresas locais; e o OpenTable para reservas em restaurantes --funcionam melhor em celulares que em computadores, o que resulta em geração de receita.
Para os investidores e outras pessoas que estejam tentando resolver o enigma de como ganhar dinheiro com os usuários dos aparelhos móveis, Marc Andreeseen, empresário do setor de capital para empreendimentos, definiu as virtudes da era móvel da seguinte forma: "Saberemos muito sobre as pessoas".
 
Tradução de Paulo Migliacci
 
 
 
 
 
MILLER, CLAIRE CAIN; SOMINI, SENGUPTA; No mundo móvel, gigantes da tecnologia correm para recuperar o atraso. DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO. Disponível em


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