No mundo móvel, gigantes da tecnologia correm para recuperar o atraso
A Intel fez fortuna fabricando processadores de computadores pessoais, e a Microsoft com o software que os equipa. O segredo do Google é encontrar o que as pessoas procuram na internet. Mas o chão está se movendo por sob esses gigantes da tecnologia devido a uma importante força: a ascensão dos aparelhos móveis.
Essas e outras empresas de tecnologia estão na corrida para reinventar seus modelos de negócios agora que o modelo antigo --um cliente estacionário sentado a uma mesa estacionária-- já não se aplica. E por isso empresas que no passado demoliram os modelos de negócios então estabelecidos, da venda de livros e música às reservas em hotéis, agora vêm tendo sua posição solapada pela adoção generalizada dos smartphones e tablets.
"As empresas estão sendo forçadas a reordenar seu pensamento, e a descobrir o que seus clientes estão fazendo nos canais móveis, e em que isso difere daquilo que propiciam a eles pelos canais da web tradicional", diz Charles Golvin, analista da Forrester Research, grupo de pesquisa em tecnologia.
Ele acrescenta: "É hilariante falar da web como um negócio tradicional, como se existisse há séculos, mas ela é um negócio do século passado".
Os gigantes do setor continuam a ser propulsores econômicos fortemente lucrativos. Mas a virada do mundo em direção a aparelhos de computação móvel causa estrago, o que inclui os resultados decepcionantes anunciados por Google, Microsoft e Intel na semana passada, em larga medida por conta de receita insuficiente com operações móveis.
Isaac Brekken/The New York Times | ||
![]() | ||
Mandy Chan usa seu telefone em uma loja da rede Target em Las Vegas (EUA) |
Os investidores estão vivendo suspense quanto aos resultados do Facebook, que serão anunciados na terça-feira, por motivos parecidos. Marissa Mayer, a nova presidente do Yahoo, declarou na segunda-feira que sua companhia não havia conseguido tirar vantagem da internet móvel, e que precisava se tornar uma empresa na qual os serviços móveis predominem.
A demanda por chips da Intel em computadores --muito mais lucrativos do que os usados nos smartphones-- está despencando. Na Microsoft, as vendas de software para computadores pessoais sofrem queda acentuada. No Google, os preços pagos pelos anunciantes quando usuários clicam anúncios vinculados a resultados de busca estão em queda há um ano. Isso acontece, em parte, porque os anúncios em aparelhos móveis registram crescimento explosivo. Eles custam menos que os anúncios na internet, e os anunciantes ainda não descobriram a maneira mais efetiva de utilizá-los.
Desde sua oferta pública inicial, o Facebook perdeu metade de seu valor em Wall Street devido à pressão por melhor desempenho no setor móvel; hoje, 60% dos usuários do Facebook usam seus celulares para acessar a rede social.
AGILIDADE
Obter lucros dependerá, daqui em diante, da agilidade com que as empresas consigam acompanham seus clientes dos computadores de mesa aos celulares, e com isso às lojas, cinemas e pizzarias onde eles gastam seu dinheiro. Também dependerá de como os consumidores --e as autoridades regulatórias-- reagirão a ter todos os seus movimentos monitorados.
O Facebook já está experimentando maneiras de usar o que sabe sobre seus usuários para exibir-lhes anúncios quando estiverem usando aplicativos móveis. O Google, por exemplo, pode vincular aquilo que um usuário conectado faz em seu computador e celular, para mostrar-lhe no celular um anúncio relacionado a buscas que ele tenha feito no computador de casa. Mas na semana passada as autoridades regulatórias europeias instruíram o Google a alterar suas normas de privacidade, que permitem que a empresa recolha informações centralizadas sobre usuários nas diversas plataformas que a companhia opera, como o Gmail e o YouTube.
Além disso, a Nielsen constatou que apenas 20% dos usuários de smartphones consideram anúncios em celulares "aceitáveis".
'REVOLUÇÃO DOS SMARTPHONES'
Hoje, cerca de metade dos norte-americanos têm celulares inteligentes, de acordo com a comScore --um ritmo de adoção espantosamente rápido desde que a Apple lançou o iPhone, há apenas cinco anos. O tempo que as pessoas dedicam a navegar na web, jogar jogos on-line e ouvir música via internet com seus celulares dobrou nos dois últimos anos, para 82 minutos diários, de acordo com a eMarketer. O tempo passado on-line em computadores crescerá em apenas 3,6% este ano.
"O que apanhou as pessoas desprevenidas foi a aceleração da multidão de coisas que se pode fazer com um smartphone", disse David Yoffie, professor da escola de administração de empresas da Universidade Harvard que estuda o setor de tecnologia.
"A web surgiu em 1993 ou 1994", diz. "E demorou 15 anos para mudar tudo. A revolução dos smartphones começou há apenas meia década. Por conta da existência da web, permitiu que os celulares tivessem impacto transformador em muito menos tempo".
Ainda assim, o setor móvel oferece grandes oportunidades a essas empresas, dizem analistas do setor. Isso acontece principalmente porque as pessoas revelam mais sobre si mesmas no celular do que nos computadores, dos lugares a que vão e seus horários de dormir às pessoas com quem conversam e as coisas que desejam comprar.
Os consumidores podem se incomodar com a intrusão dos anunciantes em suas vidas cotidianas, mas as empresas alegam que as compensações podem estar à altura --um alerta de agenda avisando que você está atrasado para um compromisso, ou um cupom de desconto que surge quando você passa por perto de um estabelecimento.
"Estamos começando a viver uma nova realidade, onde a onipresença das telas ajudará os usuários a saltar da intenção à ação muito mais rápido e com menos dificuldade", disse Larry Page, presidente-executivo do Google, a analistas, na semana passada.
"Isso criará novas oportunidades na publicidade".
SOLUÇÕES
As empresas vêm enfrentando esses desafios de diversas maneiras. A despeito da decepção quanto a seus resultados mais recentes, o Google informa que está a caminho de faturar US$ 8 bilhões com anúncios, aplicativos e mídia móvel, no ano que vem, e ativou meio bilhão de aparelhos acionados por seu sistema operacional, o Android. O Google fica com a maior parte das verbas publicitárias destinadas aos aparelhos móveis.
Está oferecendo anúncios com base em localização, como uma campanha da T-Mobile que encaminhava anúncios a usuários quando eles passavam perto de lojas da empresa, disse Patrick Pichette, vice-presidente financeiro do Google.
Mas um dos maiores desafios para o Google é rastrear se as pessoas fazem uma compra depois de verem um anúncio móvel. Ao contrário da mídia on-line, onde o Google tem como saber se alguém comprou uma câmera depois de buscá-la com seu programa, a empresa não sabe se alguém que procurou um restaurante tailandês próximo de sua localização terminou jantando lá. É por isso que vem tentando acompanhar as pessoas ao mundo físico, com serviços como o Wallet, de pagamento com celulares, e o Offers, que oferece descontos.
O Facebook está tentando usar o que sabe sobre seu bilhão de usuários para dirigir anúncios a aplicativos que estes baixem para seus celulares. Por exemplo, uma marca de refrigerantes que tenha como target o público masculino de Los Angeles, e especificamente os torcedores do Lakers, poderia encaminhar anúncios a esse grupo não apenas quando estão conectados a um app móvel do Facebook mas também quando usarem outros aplicativos.
"Acreditamos que exibir anúncios móveis fora do Facebook seja outra maneira excelente de permitir que as pessoas vejam anúncios relevantes e descubram aplicativos novos", afirmou a companhia em resposta a uma pergunta encaminhada por e-mail.
A Microsoft não quer ficar assistindo dos bastidores, enquanto as pessoas trocam os computadores por smartphones, e por isso na sexta-feira lançará uma versão de seu sistema operacional Windows que poderá ser usada para aparelhos com telas de toque, e um novo tablet, o Surface.
Mas executivos da Microsoft disseram a analistas na semana passada que a desaceleração na tecnologia da computação se devia a outros fatores além dos aparelhos móveis, por exemplo as condições econômicas desfavoráveis e a espera das empresas para comprar novos equipamentos só depois do lançamento do Windows 8.
Steve Ballmer, presidente-executivo da Microsoft, definiu o Windows 8 como "o começo de uma nova era para a empresa".
CORRENDO ATRÁS
A Intel está tentando recuperar o atraso produzindo chips para mais de duas dúzias de modelos de celulares inteligentes e tablets que estão por chegar ao mercado. A transição para o setor móvel criou um novo mercado para a companhia, além disso, já que seus chips acionam os poderosos servidores que acionam as redes de computação em nuvem onde boa parte dos dados usados pelos aparelhos móveis ficam armazenados.
"Durante a evolução do mercado dos smartphones e dos tablets, a empresa historicamente não esteve presente", diz Jon Carvill, porta-voz da Intel. "Este ano, isso começou a mudar".
Para outras empresas de tecnologia, os aparelhos móveis foram benefício desde o começo. A Apple se tornou a companhia mais valiosa dos Estados Unidos vendendo o iPhone e o iPad.
Recentemente, ela desenvolveu um serviço próprio de mapas para substituir o do Google no iPhone, em parte porque deseja manter para si as valiosas informações quanto a buscas baseadas em localização, privando os concorrentes desses dados.
A Nvidia e a Qualcomm fabricam processadores para os aparelhos moveis. Amazon e eBay vendem produtos a consumidores mesmo nas pequenas telas dos celulares. E os proprietários de smartphones consideram que alguns serviços --como o Ziller, para imóveis; o Yelp, para empresas locais; e o OpenTable para reservas em restaurantes --funcionam melhor em celulares que em computadores, o que resulta em geração de receita.
Para os investidores e outras pessoas que estejam tentando resolver o enigma de como ganhar dinheiro com os usuários dos aparelhos móveis, Marc Andreeseen, empresário do setor de capital para empreendimentos, definiu as virtudes da era móvel da seguinte forma: "Saberemos muito sobre as pessoas".
Tradução de Paulo Migliacci
MILLER, CLAIRE CAIN; SOMINI, SENGUPTA; No mundo móvel, gigantes da tecnologia correm para recuperar o atraso. DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO. Disponível em
<http://www1.folha.uol.com.br/tec/1174284-no-mundo-movel-gigantes-da-tecnologia-correm-para-recuperar-o-atraso.shtml> acesso em outubro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário